Coincidências do destino ou não, estava hoje - dada a chuvarada - colocando meus milhares de e-mails não lidos em dia e me deparo com um RSS feed de um dos meus blogs preferidos, o Searching for Style, falando sobre como a indústria da pele é mal vista. E aqui estou eu, numa micro-cidadezinha da Suíça, de cara pro lago Léman e batendo os dentes de frio, pensando como seria bom ter um casaco de couro/pele. Nada melhor que escrever a respeito.
lindo no verão; mas no inverno deve gelar até o pensamento mais íntimo...
Nesse momento os psicopatas alardeantes de plantão já estarão na caixa de comentários sem ao menos haver lido o post inteiro. Gostaria de deixar bem claro que eu sou totalmente contra qualquer tipo de crueldade contra o mundo animal. Quem me conhece bem sabe que eu sou daquelas que pega papel pra catar formiga e colocá-la pra fora da mesa/cadeira/chão. Se eu ficar pensando que vegetais e frutas tem que morrer para serem colhidos já fico com remorso, imagina pensar que uma vaquinha, aquela coisinha bonitinha que dá vontade de abraçar e levar pra casa, tem que morrer pra eu comer um bifão gostoso? Gosto nem de pensar.
Pensar nessas coisas me faz querer parar de comer carne (e frango, peixe, porco, carneiro, etc)? Faz - e também me faz querer parar de comer frutas, legumes e verduras, acredite em mim. Mas essas coisas me fazem e/ou me farão *realmente* parar de comer? Óbvio que não. Explico o por quê: eu a-do-ro comida. Como poucas coisas nessa vida. Adoro cozinhar, adoro receber amigos em casa, adoro os cheiros, os sabores, a visão de pratos super bem feitos, as cores, tudo. Se me tirassem a comida, minha vida seria muito mais triste (aliás, acho que por isso que eu nunca seria anoréxica... bulímica talvez, mas anoréxica seria impossível). O que me faz ter a consciência mais limpa sobre minha comida é que sei que tento ao máximo (máximo do máximo do máximo messsmoooo) comprar comida orgânica, de comércio justo e, de preferência, local e na temporada certa.
foto do tiramisúper que fiz outro dia
Dá trabalho? Ô se dá. Tem que saber quando é que época de vagem ou de melão, quando os peixes estão reproduzindo e ter na cabeça de cor e salteado todas as cidadezinhas próximas a Barcelona para saber a procedência do tomate.
E dói no bolso? Ô se dói - marido pode até comentar no post e dizer quantas vezes a gente apertou daqui ou dali pra poder comprar leite orgânico ao invés do normal, ou comer um pouquinho menos pra poder ter as coisas certas dentro da geladeira.
Produtos orgânicos, de comércio justo, de temporada e locais são melhores para o meu organismo (menos química, menos coisas "escondidas" e menos peso na consciência) e também são melhores para o mundo. Eles não tem uma pegada de carbono (mais conhecido como carbon footprint - algo que imagino que nem se fala a respeito no Brasil...) tão grande, eles recompensam a cadeia produtiva de uma melhor forma e eles não agridem tanto ao meio ambiente. Falo "tanto" porque, convenhamos, nós somos seis bilhões de pessoas. E gente, sejamos honestos: não dá pra não ferrar o meio ambiente. Nós somos um mega über ultra gigante maxi elefante numa loja de cristal. Podemos ser simpáticos e delicados? Sim. Mas não quebrar nadinha é impossível, babe.
não é só orgânico não... tem que ser local e de comércio justo também! |
E aí eu chego no post brilhante que a Alexandra do Searching for Style fez. Ela descreve como é a indústria da pele no Canadá - onde ela vive e teve como fonte diversos órgãos governamentais - e como a demonização da indústria é extremamente insensata se a comparamos com a indústria alimentícia. E também como existe uma diferença entre a indústria no Canadá - onde pesquisou e viu que os benefícios ultrapassam os malefícios - e indústrias de fundo de quintal chinesas ou russas, que matam bichos de forma brutal e só se preocupam com o lucro imediato.
Se pararmos para pensar, é o mesmo que escolher entre alimentos orgânicos/de comércio justo/locais/de temporada ou aquelas framboesas importadas do norte da França (para vocês)/maracujás importados do Brasil (para mim). Fora de época, viajou meio mundo, tomou outro meio mundo de agrotóxico na cabeça e ainda deve ter explorado muita gente no caminho. Isso porque não estou falando nem sobre carnes, porque aí o buraco é beeeeeeeeemmmmm mais embaixo. Bife de chorizo argentino (vocês substituam por um patê de fígado de ganso francês) é uma delícia, amore; mas querer ele toda semana no meu prato é saber que tem muita gente e muito bicho sofrendo somente pelo prazer da minha pança.
Eu ri.
Por isso minha gente, se eu posso dar uma grande dica - aliás, acho que deveria elevar à categoria de "contribuição para o engrandecimento e transformação do seu ser em uma melhor pessoa" se eu me cosiderasse Dalai Lama, coisa que não acontece... - ela seria: seja um comprador consciente e moderado.
Esqueça o que você ouviu da tia Cotinha que adora uma churrascaria ou do seu primo hippie-chic-vegetariano, o que você leu na Veja ou na Nova do mês passado. Tente obter uma coletânia GRANDE de informações sobre esses assuntos - digamos - "difíceis" porque eles são complicados de formar uma opinião sensata. E nem preciso dizer que Wikipédia não vale como "fonte" né... E moderação faz bem à tudo na vida. Ninguém precisa ser shopaholic nem viver de saco de batata amarrado com corda de embarcação na cintura; muito menos ser obeso mórbido comedor de uma vaca, três frangos e um porco por dia ou frutarian (aqueles que só comem o que cai das árvores porque "já está morto"). Compulsão serve para descrever os dois âmbitos do espectro, e esse tipo de extremismo não leva ninguém a absolutamente nada. Aliás, leva. E a gente tem mais de dois mil anos de história pra provar que o resultado final é sempre uma bela M****.
Por isso, se você quiser ter um casaco de pele (apesar d'eu achar uma coisa particularmente de doido se você não morar nas terras altas do Sul do país - que, aparentemente, estão agora debaixo de muita neve!), tenha. Sem crise de consciência nem culpa. Mas faça o seu dever de casa e compre um casaco vintage ou procure uma instituição de respeito que tenha seus casacos feitos com peles de animais locais, com controle e fiscalização séria. O mesmo serve para qualquer peça feita com couro ou de qualquer material com procedência animal. Eles serão bem mais caros que os de procedência duvidosa, mas você está pagando pela sua consciência livre e também por uma mudança nos hábitos de consumo daqui em diante. É encarar como uma aposta num futuro onde não se precisará pensar sobre comércio "justo" ou "digno" ou "respeitador do meio ambiente". E eu acho que essa aposta vale ser comprada.
P.S.: Recomendo ler o post da Alexandra no Searching for Style - é esclarecedor e interessante.
P.S.1: E recomendo ler o artigo da Newsweek sobre a Peta e a "eutanásia" que eles fazem com os cachorros que levam para seus abrigos. Hipocrisia tem um novo nome.
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