O interessante é que o Met Gala não tem força para ser um tapete vermelho no estilo do Oscar. Não porque não seja importante - muito pelo contrário! - mas porque a essência do Met Gala é outra. O Costume Institute é uma seção do Metropolitan que gerencia a curadoria de exposições de moda no museu. Todo ano eles fazem essa festa de gala para lançar uma nova exposição e para angariar fundos para esta seção do museu - seja para adquirir novas peças, trazer novas exposições, manter a instituição. E o especial desse baile de gala é que ele é TEMÁTICO. Ou seja, todo ano existe um tema, normalmente vinculado à exposição.
E o que se entende como tema? Pois bem... para mim, entenderia como se fosse festa à fantasia. Normalmente o que os convidados faziam era tentar se relacionar com o tema através de suas roupas - opção meio óbvia já que é um evento de moda! Então era uma "festa à fantasia super fashion", por assim dizer.
a entrada do Metropolitan preparada com o tapete vermelho para receber os convidados do Costume Institute Gala Ball
E aí que esse ano o tema era Alexander McQueen. Pouco mais de um ano depois da morte do designer, o Costume Institute resolveu montar uma exibição com peças de um designer celebrado porém muito pouco compreendido. Os desfiles de McQueen são complicados, intricados, com uma nuance dark e influências que não são de fácil absorção. Eu mesma me incluo na lista dos possíveis bilhões de pessoas que não compreeendem perfeitamente o que significa um desfile ou uma peça de McQueen. É realmente difícil entender porque grande parte de suas influências são históricas, misturadas com coisas imaginárias e muita contraposição entre bem e mal, céu e inferno, sombrio e luz.
a teatricalidade, o sombrio e a beleza das peças de passarela de McQueen
McQueen tinha um amor inigualável ao romantismo dark da era vitoriana, às pinturas flamencas (da Holanda, não as dançarinas espanholas!), ao gótico e à natureza. E a sua técnica foi estabelecida na Saville Row - a rua de Londres mais conhecida pelos seus inúmeros ateliers de alfaiates - e a estrutura de suas roupas sempre foi muito celebrada. Misturar todos esses elementos não é fácil, e normalmente por isso suas coleções sempre pareciam agressivas aos olhos. Mas, se separadas em pequenas partes, é uma ode linda ao que um criador pode elaborar, com mil e uma técnicas diferentes e um resultado mais que belo.
vídeo feito pelo Metropolitan Museum sobre a coleção -
o curador da exibição passeia pelas salas e explica toda a concepção dos ambientes
Tenho que dizer que fui visitar amigos uma vez em Londres e me deparei com a mais recente coleção de McQueen (naquela época, verão de 2008) exposta nas vitrines da Selfridges. Eu já ensaiava meus passos na mudança de economista para alguém que trabalha com moda e aquele momento foi como uma catarse pra mim. Eu fiquei fácil uns 25 minutos parada, estática no meio de uma Oxford Street borbulhante, com gente me empurrando e passando rapidamente, só admirando aquelas peças. Pra mim, até hoje, é uma das minhas coleções favoritas (ever mesmo, de todos os designers e de todos os tempos!) e me fez chorar no meio de uma rua. Eu nunca vi algo tão perfeito e tão lindo - obviamente é uma das coleções de McQueen menos agressivas e com menos influência dark (tenho que dizer aqui que não curto muito coisas dark...) - mas foi algo que mexeu profundamente comigo.
a coleção de outono/inverno 2008, que eu tive o prazer de ver nas vitrines da Selfridges
E eu acho que a intenção de McQueen sempre foi de ser esse tipo de pessoa - aquele que provoca emoções, mesmo que sejam as de repulsa, e não amor. E talvez por isso ele seja esse enfant terrible, essa pessoa incompreendida.
Falo isso tudo porque o tapete vermelho do Met Gala, pra mim, demonstrou exatamente isso: a completa incompreensão do trabalho de McQueen. Em um evento onde as pessoas deveriam se inspirar por seu trabalho, todos optaram por renda e minimalismo. As mesmas tendências que vemos por aí, em qualquer lugar. Estão de acordo com o presente momento na moda? Claro. Estão bonitas? Sem dúvida. Mas pra mim o baile serve como uma válvula de escape fashion, um momento em que as pessoas tem para soltarem a sua Bjork interna e serem completamente selvagens em suas escolhas.
Por isso mesmo não dá para o tapete vermelho do Met Gala ser visto sob a mesma ótica que um Oscar. Ele dá a todos que vão ao baile uma chance de ser modelo, ele é uma passarela. Por mais extravagante ou doida que sua roupa possa ser, ali é o momento de mostrá-la ao mundo.
quem quiser ver em detalhes, é só clicar nas imagens que elas aumentam!
Só que eu nunca fui daquelas pessoas que, quando convidada para uma festa à fantasia, escolhia a versão piriguete de Mulher-Gato ou qualquer coisa semelhante. Ou coisinhas bonitinhas, tipo princesinha ou anjinho. Eu sempre fui a louca da panela, que curtia em fazer as fantasias mais mirabolantes e saía de Smurf, toda pintada de azul (e claro, sem poder encostar e/ou beijar ninguém) ou Cruela Cruel. Até de Mônica, com cabelo curto cheio de gel pra ter "bananas" na cabeça ao invés de cabelo eu já fiz.
Então, pra mim, o Met Ball é a versão adulta e fashion desses meus momentos. E me entristece ver muita gente elegendo Calvin Klein Collection, Michael Kors ou Stella McCartney como sua interpretação do que é a essência de McQueen (eu colocaria como polos opostos e que se repelem, que nem ímã!) e, além de tudo, sendo eleita como "as melhores vestidas" para o evento. Sei lá... é realmente endossar que a moda, como conceito, não é nada - e o que vale mesmo é o marketing que essas companhias despejam em nós. Aquele esqueminha "temdemsia", sabe?
Isso foi só um desabafo - não quero que ninguém se sinta ofendido pelo meu texto. Cada um tem o direito à sua opinião e de gostar do que quiser. E eu não gostei de ver a imagem tão contundente e impactante de McQueen ser massacrada pelo minimalismo, por um "brilhinho" e por uma "rendinha" - tudo em prol do "aparecer bonita na foto e não ser gongada pelos sites e blogs"... Sentindo falta da Bjork no Oscar, viu?
P.S.: Quem quiser se aprofundar mais sobre a exposição de McQueen no Costume Institute, é só dar uma olhada nos vídeos que o Metropolitan fez sobre algumas de suas coleções. É em inglês mas vale a pena só pelas imagens (se você não dominar a língua!). Além disso tem imagens, explicação sobre o evento e até um app pra Ipad que a Vogue fez especialmente pra exibição!
P.S.2: Coloco abaixo um vídeo que a Vogue US fez dentro do Met Gala. Super legal, mostra muitas roupas em movimento (coisa que faz uma diferença absurda na hora de "gongar" ou elogiar alguém) e pelo menos mudou minha opinião sobre as escolhas de diversas convidadas (Karolina Kurkova e Mary J. Blige me surpreendendo positivamente no "ao vivo")!
P.S.3: O Fashionista fez as contas e colocou números interessantes sobre o tapete vermelho do Met Gala. O resultado mais impressionante? Mais vestidos Stella McCartney (que era co-host do evento) que McQueen. Vai entender...
P.S.4: Daphne Guinness - musa de McQueen e uma de suas admiradoras mais fervorosas - se vestiu para o evento em uma vitrine da Barney's! O Huffington Post fez uma ótima edição do momento, entrevistando pessoas que estavam ali só para ver a performance da herdeira das cervejas Guinness e uma das maiores colecionadoras de couture da nossa época.
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